quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Gravidez / Parto Cesariana: necessidade ou comodismo?

No Brasil, 90% dos partos realizados na rede privada são cesáreas, contra 15% nos Estados Unidos e na França, e de 8% a 10% na Dinamarca e Alemanha. Um índice altíssimo, especialmente considerando-se o custo da cirurgia em relação ao parto normal. Falta de orientação da gestante, medo da dor do parto? Ou, pior, comodidade do obstetra, que não quer perder muito tempo e, ainda, ganhar mais dinheiro? Por que, afinal, a brasileira prefere ter seu bebê por cesariana?Para esclarecer tantas dúvidas, TopBaby ouviu três obstetras: o Dr. Carlos Dale, do Rio de Janeiro, o Dr. Aristodemo Pinotti, de São Paulo, e o Dr. Carlos Henrique Mascarenhas Silva, de Minas Gerais.TopBaby – O Brasil é mesmo campeão de cesarianas desnecessárias?Dr. Carlos Dale – É, sim. Uma das razões, sem dúvida, está na baixa remuneração do médico. Ganhando mal, ele precisa ter vários empregos. Assim, não lhe sobra tanto tempo para acompanhar um trabalho de parto, aumentando a indicação de cesarianas.Dr. Pinotti – Há uma verdadeira epidemia de cesáreas no Brasil, sim, por diversas razões: é um procedimento mais rápido, paga-se mais pela cirurgia do que pelo parto normal. Resultado: o médico, mal-remunerado, correndo de um emprego para o outro, não tem muito tempo disponível para esperar por um trabalho de parto. Além disso, existe uma carência de parteiras, que são extremamente úteis para este fim.Dr. Carlos Henrique – Infelizmente, as pesquisas mostram que o índice de cesarianas realizadas no Brasil é muito alto, dos maiores entre os países em desenvolvimento. Um dos motivos é a má orientação das mulheres, que acreditam que a cesariana é mais rápida e menos dolorosa que o parto normal. Acham, ainda, que a cirurgia oferece menores riscos para a criança, que não precisa passar pelo trabalho de parto.TopBaby – Como este índice poderia diminuir?Dr. Carlos Dale – Primeiro, melhorando os honorários médicos e, depois, pagando-se melhor pelo parto normal.Dr. Pinotti – É preciso esclarecer que, quando bem indicada, a cesariana pode salvar vidas. Do contrário, apenas acrescentaria riscos. Estatisticamente, a mortalidade materna e do recém-nascido é de cinco a seis vezes maior em cesáreas do que no parto normal. Algumas medidas mais imediatas poderiam ajudar, por exemplo, o INSS pagar o anestesista no parto normal, já que, muitas mulheres optam pela cesariana alegando medo da dor.Dr. Carlos Henrique – Alguma coisa já esta sendo feita pela Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) que lançou, há quatro anos, uma campanha intensa de estímulo ao parto normal, através de orientação de gestantes e médicos. Além disso, é importantíssimo que os obstetras informem às grávidas que esta é a melhor opção.TopBaby – Os planos de saúde têm responsabilidade neste record?Dr. Carlos Dale – Muita, devido à baixa remuneração médica.Dr. Pinotti – Os planos pagam tão mal ao médico que acabam acarretando estes exageros.Dr. Carlos Henrique – Talvez tenham uma parcela de culpa, a partir do momento em que não valorizam, financeiramente, o profissional que realiza o parto normal.TopBaby – Quem opta pela cesariana: o médico ou da gestante?Dr. Carlos Dale – Muitas mulheres já chegam ao consultório dispostas a fazer cesariana. Mas a opção deve ser dos dois.Dr. Pinotti – Cabe ao médico indicar o tipo de parto mais indicado. Quanto à gestante, tem o direito de aceitar ou de questionar a escolha, caso haja essa possibilidade.Dr. Carlos Henrique – Muitas vezes, a paciente já procura o médico com o objetivo claro de optar pela cesárea. Há quem, após uma boa conversa, mude de opinião. Outras persistem na idéia. Mas, convém lembrar, que há casos específicos em que a cesariana é a melhor indicação.TopBaby – Quando ela é realmente indispensável?Dr. Carlos Dale – Em qualquer situação de risco, para a mãe ou para o feto. Como o mau posicionamento da criança (de bumbum para baixo), especialmente se é o primeiro filho; em casos de pré-eclâmpsia, desproporção feto-pélvica (feto muito grande e gestante com bacia mais estreita), primeira gravidez em idade materna avançada, herpes genital no final da gestação, diabetes, etc.Dr. Pinotti – Quando há sofrimento fetal ou se o trabalho de parto se estende excessivamente, por exemplo. Cabe ao obstetra saber em que circunstâncias a cirurgia é a melhor opção.Dr. Carlos Henrique – Quando a criança não está completamente encaixada, não se encontra na posição correta e é o primeiro parto da gestante; placenta baixa, que impede a saída do bebê pelo colo uterino; peso baixo do feto (menos que 1,5kg/2kg); se a mãe tem problemas cardíacos; quando a placenta se descola do útero e, ainda, em determinadas patologias da mulher ou do bebê.