quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Laqueadura: a posição da Igreja diante das finalidades "terapêuticas"



Por Silvio L. Medeiros
Pergunta:
Caros irmãos, a paz de Cristo! Quero louvar a Deus por vocês existirem. Gostaria que me respondessem com grado e muito cuidado, pois irei divulgar esta vossa resposta para toda a Igreja da Diocese do Crato. Sou católico, professor de religião, curso Teologia no INTA. E muitas vezes sou taxado de louco, exagerado por querer viver o Evangelho de Jesus e o ensino da sua Igreja. Gostaria que vocês esclarecessem sobre a Ligadura de trompas. Sei que é um pecado grave e conheço o Humanae Vitae. Mas o triste é que a maioria dos católicos engajados e que se dizem obedecer à igreja, procuram uma desculpa para tal ato. Fico pensando se sobrará um só que consiga viver o que a nossa igreja pede. Às vezes até alguns padres orientam os leigos erradamente, com várias desculpas como: "Tem nada não, eu já liberei várias mulheres a fazer a ligação"; "A igreja só não libera, para não desmoralizar". Gostaria de saber:
De quem é a culpa, do padre que liberou ou a pessoa que fez? Quais tipos de fins terapêuticos são liberados a ligadura? É preciso reparar este pecado, depois de arrependido e confessado? Qual a posição da Igreja em relação a essa mutilação? E quais as conseqüências de tal ato? Muito obrigado. Deus vos abençoe.

Resposta:Olá caríssimo José Aparecido, a paz de Cristo para você e sua família também. Agradecemos vossa confiança em nosso Apostolado e nos recomendamos as vossas orações.
Ficamos muito felizes por você ser taxado de louco ao ser fiel aos mandamentos da Igreja, que nada mais são do que os mandamentos do próprio Senhor colocados em prática. Isso é sinal de alguém que vive como seguidor de Cristo, pois o servo não é maior que o seu mestre; com efeito, se seguimos a Cristo seguimos necessariamente um caminho de cruz e sacrifício. Buscamos a sabedoria de Deus, loucura para os homens, como diria São Paulo. Alegre-se com essa humilhação, pois grande será vossa recompensa no Reino dos céus. O Senhor faz várias perguntas. Vamos uma a uma .1) Qual a posição da Igreja em relação a laqueadura? O Senhor disse que conhece a Humanae Vitae, sabe muito bem, portanto que mutilações com finalidades esterilizantes, são contrárias a dignidade da natureza humana. Isso porque Deus fez o homem com uma potência ensiminadora e a mulher com uma fertilidade própria em alguns momentos do mês (4, 5 dias). Assim é o ser humano. Pois bem, rejeitar voluntariamente a capacidade natural da fecundidade é obviamente um pecado grave, além de um ato de profunda maldade para com a própria pessoa humana. É o ser humano voltando-se contra aquilo que é! Primeiro porque vai diretamente contra a própria natureza da pessoa humana, que no fundo deseja ser "como Deus" e se reconfigurar segundo o próprio critério; segundo porque renega objetivamente a vida de possíveis filhos que Deus desejaria enviar a esses casais. Eis aí a destruição de uma das finalidades do matrimônio, que é a função pro criativa. 2) Quais fins terapêuticos tornam lícita a laqueadura?Nenhuma. Simplesmente porque os fins não justificam os meios. A explicação é simples. A ligação das trompas é sempre moralmente ilícita, um mal em si mesmo, porque tem como única e exclusiva finalidade a rejeição dos filhos.
Nunca representará um mal para a mulher manter a normalidade de suas trompas. Jamais terá um caráter terapêutico, mas sim para tornar estéreis os futuros atos sexuais. Só para isso. Portanto a esterilização direta continua moralmente inaceitável. Não se chega a um bem através de um mal. Em casos aonde uma futura nova gestação possa gerar risco de vida para a mãe, então existem vias moralmente lícitas à livre escolha do casal, como o método Billings, que possui eficácia comprovada pela OMS de 99%. Se um casal prefere a laqueadura ou a vasectomia mesmo tendo recursos como esse, não é senão por falta de amor a Deus e a Igreja, má vontade e preguiça de buscar informação. Uma licitude da esterilização só viria de forma indireta, como por exemplo, numa retirada de um útero com câncer, causando esterilidade, mas como conseqüência de um ato bom, que é a terapia efetiva numa mulher para evitar que o câncer se alastre e afete sua saúde. 3) De quem é a culpa, do padre ou da pessoa que fez?Para saber se existe pecado grave aqui precisamos avaliar as três condições: a matéria, a ignorância, a liberdade. A matéria é grave, pois se refere a fecundidade humana. Depois, é preciso ter em conta o grau de conhecimento do que se comete. E finalmente, se existe liberdade na conduta e na decisão do ato. Um padre, por exemplo, tem a séria obrigação de conhecer o que é ou não é matéria grave. Passa anos estudando para pelo menos saber isso. Se não sabe, já tem culpa por omissão voluntária. Mas numa hipótese aonde fosse privado involuntariamente de tal formação, ou que sofresse de amnésia, ou mero esquecimento daquilo que estudou, sei lá, que pergunte a algum especialista então! Orientando assim peca duplamente, primeiro por palpitar sobre assunto já definido pela moral e pela Igreja, que com presunção ousa violar, e depois por incitar outro a cometer um ato dessa natureza. Estes fazem da Igreja um verdadeiro Buffet de doutrinas, escolhem o que querem e rejeitam o que lhes desgosta, oferecendo depois o prato aos outros e apresentando como obra final do seu Mestre. É o pecado do escândalo. É claro que se uma pessoa se esteriliza após o conselho de um mau padre, não peca mortalmente por lhe faltar plena ciência do que pratica. Talvez se soubesse que o seu ato fere diretamente o amor de Deus e sua lei, não a cometeria. Mas o mau que pratica subsiste ainda que não saiba, peca venialmente. 4) É preciso reparar este pecado, depois de arrependido e confessado?Não é preciso para que se salve, mas é desejável, como todo e qualquer outro pecado mortal, para que se aumentem os nossos méritos diante de Deus e quitemos com Ele todas as nossas dívidas de amor, além de aumentarmos nosso grau de glória no céu. Esperamos ter sido úteis. Desculpe-nos pela demora na resposta, mas os operários são poucos.
(www.veritatis.com.br/article/4071)

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